A empresária Sandra Maria Lee, 39, entrou na butique da Louis Vuitton da Quinta Avenida falando português há algumas semanas:
“A Paula, por favor. Paula. No, no, Paula, please.” Os funcionários tentaram explicar que Paula, uma das duas vendedoras que falavam português na loja, não trabalhava ali fazia alguns meses.
Em meio à valorização do dólar, lojas de Nova York dispensam funcionários lusófonos que tinham contratado para atender os brasileiros, terceiro grupo de estrangeiros que mais visita a cidade.
A loja da Prada no SoHo apareceu em reportagem da Bloomberg por empregar três vendedores fluentes em português em 2010. Agora, pede a grupos de brasileiros que “avisem com antecedência de alguns dias”, para conseguirem comissionar funcionários que entendem a língua.
A Macy’s diz em seu site ter um lusófono. A Folha visitou o prédio da Quinta Avenida da loja de departamento em três datas no mês passado e ele não estava disponível.
Tentando comprar em português, a reportagem foi atendida em espanhol nas três visitas. Macy’s, Louis Vuitton e Prada não responderam a pedidos de entrevista feitos durante duas semanas.
Ana Souza, 27, trabalhou em três lojas de departamento durante os cinco anos em que morou em Nova York.
Está de volta a Vitória, sua cidade natal, faz dois meses. “Fiquei um ano procurando emprego. Meu visto de trabalho expirou e tive de voltar.”
Lojas de roupas jovens tampouco veem a língua como um investimento válido. Na Abercrombie, falam-se seis línguas, além da oficial do país: italiano, espanhol, alemão, francês, chinês e alemão. Procurada, a
Abercrombie não se pronunciou.
“Parece que um certo interesse por funcionários chineses está acontecendo ao mesmo tempo em que há queda na procura por vendedores brasileiros, portugueses ou de países da África que dominem o português”, diz a analista de recursos humanos Tina Schuster, que recruta para marcas de luxo.
Alguns negócios visitados afirmaram não terem enxugado a equipe que fala português, como a loja de equipamentos fotográficos e tecnologia B&H, em Hell’s Kitchen.
Ali, há quatro vendedores capacitados com a língua. Um deles é o americano Samuel Mondesir, 25, que aprender frases como “mas é o iPhone grandão ou o pequeno que você procura?” nos oito meses de emprego.
Questionado sobre como tinha aprendido português (e adotado o Santos e o Vasco como times do coração) em menos de um ano, ele espalmou as duas mãos e apontou ao redor: “Você já olhou em volta? Só tem brasileiro!”.
(Por Folha de S.Paulo) varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo, retail lab, ESPM