As maiores redes de supermercados do Reino Unido tiveram uma grande indigestão. Na última década, os quatro grandes supermercados – Tesco, Asda, J Sainsbury e Wm Morrison – empanturraram-se de propriedades, abocanhando qualquer espaço de supermercado disponível e abrindo um número sem precedentes de lojas.

Mas agora as grandes redes estão sendo forçadas a entrar em uma nova era de contenção porque a demanda está caindo e os britânicos estão preferindo fazer compras pela internet, em lojas de conveniência menores ou nas lojas de descontos alemãs Aldi e Lidl. Com isso, os supermercadistas de maior porte diminuíram seus projetos de abertura de lojas e algumas estão reduzindo o valor contábil de seus ativos imobiliários.

Chris Keen, diretor da equipe de varejo da empresa de serviços imobiliários CBRE, diz que a abertura de grandes supermercados vai cair mais ou menos pela metade no ano financeiro de 2015-2016, em comparação ao ano anterior. Segundo ele, 976.000 m² de espaço para supermercados foram abertos em 2013-2014. Esse número caiu um pouco para 884.500 m² no ano financeiro de 2014-2015, com os varejistas já comprometidos com muitos dos projetos. Mas a área deverá encolher para apenas 457.500 mil m² em 2015-2016.

No começo, as redes simplesmente mudaram sua ênfase, acrescentando às inaugurações de grandes unidades uma enxurrada de lojas de conveniência e ampliando a capacidade de entrega on-line. Mas agora Dave McCarthy, analista do HSBC, afirma: “A corrida por espaço está mais que desenvolvida. Ela realmente está chegando ao fim. A Tesco está reduzindo seu programa de abertura de novas lojas e as demais redes deverão fazer o mesmo”.

Agora, algumas das redes estão convertendo suas lojas maiores em supermercados menores. A Tesco começou esse processo alocando espaço em algumas superlojas para serviços de bufê, creches e academias de ginástica. A Sports Direct também começou a ocupar espaço em algumas lojas da Tesco.

Mike Coupe, executivo-chefe da J Sainsbury disse recentemente que a companhia poderá trabalhar com parceiros “cuidadosamente escolhidos” para preencher o excesso de oferta de espaço que espera ter em um quarto das lojas nos próximos cinco anos.

Bruno Monteyne, analista da Sanford Bernstein, diz que as operadoras de supermercados estão convertendo parte do espaço de suas lojas em shopping centers, ocupados por inquilinos menores como cabeleireiros e cafés, imitando a estratégia adotada pelo Carrefour e o Casino na França. Monteyne também prevê que parte do espaço de grandes supermercados será transformado nas chamadas “dark stores” – supermercados sem clientes que são usados para despachar compras encomendadas pela internet.

Mas alguns executivos e analistas acreditam que supermercados inevitavelmente serão fechados. Segundo o Goldman Sachs, Tesco, Sainsbury e Morrison precisarão fechar uma em cada cinco lojas para proteger seus lucros.

Esse tipo de mudança tem implicações para os investidores em imóveis, porque as redes britânicas de supermercados venderam parte de suas propriedades e passaram a alugar esses ativos por meio de contratos de longo prazo com os compradores.

“Os grupos varejistas não vão quebrar, os contratos de leasing são longos e desse modo a coisa vai queimar lentamente”, afirma Andrew Jones, executivo-chefe da LondonMetric, companhia dona de imóveis comerciais. “Os contratos de leasing começarão a vencer em cerca de cinco anos e assim não há um problema imediato de renda para os proprietários”, acrescenta.

No longo prazo, os valores contábeis de algumas propriedades deverão ser pressionados, afirma Jones, porque “se os valores dos aluguéis estão caindo e os contratos de leasing estão ficando mais curtos, então os rendimentos das avaliações precisam ser levados em conta”.

Valores em queda poderão levar alguns donos de imóveis a converter terrenos atualmente ocupados por supermercados em áreas para moradia. O Goldman Sachs alerta que as grandes redes atualmente avaliam os terrenos em seus balanços em duas vezes mais do que eles seriam vendidos para moradias.

Mas nem todo mundo espera o pior. Charles Maudsley, diretor de varejo da British Land, que tem imóveis de supermercados avaliados em 1,6 bilhão de libras, principalmente por meio de joint ventures com a Tesco e a Sainsbury, diz que provavelmente haverá uma polarização nos valores dos imóveis. As lojas em boas condições e com poucos concorrentes continuarão se saindo bem. “É compreensível e natural que todo o setor seja colocado no mesmo saco. Acho que a coisa será muito mais suil do que isso”, conclui ele.

(Por Valor Econômico) varejo, núcleo de estudos e núcleo e negócios do varejo, retail lab, ESPM