“Eu estou tomando do meu próprio veneno”, diz Deusmar Queirós, 67 anos, fundador da segunda maior rede de drogarias do país, a Pague Menos, com 725 unidades e previsão de R$ 4,3 bilhões em vendas neste ano. A comparação é uma forma de se referir aos planos de investimento dos dois maiores varejistas de farmácias do país – Raia Drogasil e Drogaria Pacheco São Paulo (DPSP) – na região Nordeste, mercado dominado pela Pague Menos.

A rede tem 54% das lojas localizadas no Nordeste. Queirós começou a montar seu negócio, em 1981, em Fortaleza (CE). “Eu fui para o Sudeste abrir loja na terra deles, agora eles sobem para cá. As coisas são assim mesmo. Mas não vou entregar o ouro fácil. Prefiro sacrificar um pouco da minha margem e manter vendas. Não tenho acionista me cobrando nada ainda, então prefiro defender mercado com elas chegando por aqui”, disse Queirós ao Valor.

A margem líquida da empresa passou de 3% em junho de 2013 para 2% neste ano. “Elas [as duas concorrentes] estão com todo o gás, mas isso de abrir [loja] com desconto grande em preço é coisa que não passa de seis meses. As redes cansam, não tem como segurar mais do que isso”.

A Raia Drogasil decidiu neste ano tornar o Nordeste um dos mercados prioritários de crescimento orgânico. Entre junho de 2013 e 2014, a fatia da região nas vendas totais da empresa passou de 0,6% para 1%, ou seja, de R$ 9,6 milhões para R$ 18 milhões, impulsionada pelo crescimento na Bahia (onde tem loja há dois anos) e pela entrada em Pernambuco em maio – foram abertas duas lojas em Recife. Em agosto, mais dois pontos em Maceió (AL). Em setembro, um ponto foi aberto em Aracaju (SE). Um primeiro centro de distribuição da rede no Nordeste deve ser aberto em 2015.

O grupo DPSP, dono das cadeias Pacheco e Drogaria São Paulo, tem ampliado, desde 2013, as operações na Bahia e no Recife. A rede tem 25 farmácias em Salvador, com a bandeira Drogaria São Paulo, e semanas atrás informou que Nordeste e Centro-Oeste são focos de expansão orgânica.

Nordeste é a segunda maior região do país em vendas do setor farmacêutico, com 18,1% de participação, abaixo apenas do Sudeste, com 24,1%, segundo o IMS Health

Numa espécie de “antídoto” ao veneno, Queirós programa mais inaugurações nas praças das concorrentes. Ele planeja aberturas no interior de São Paulo neste fim de ano (cidades de Bebedouro, Catanduva, Ribeirão Preto e Piracicaba). Porto Alegre, Mato Grosso e Brasília também devem receber lojas da rede até o fim de 2015. A ideia, segundo Queirós, é que, na próxima década, o Nordeste diminua a fatia na receita, de pouco mais de 50% para cerca de 40%. E no Sudeste, de 15% para 30%.

No Ceará, a Pague Menos investe em pontos mais sofisticados em shoppings, como a unidade no RioMar Fortaleza, inaugurada na semana passada, e estuda a criação de uma loja conceito em Fortaleza, com mil metros quadrados.

Queirós disse ainda que mantem planos de oferta pública inicial de ações no país para “algo como entre o segundo semestre de 2015 e 2016”. A ideia inicial é se desfazer de 25% a 33% das ações na operação, mantendo o controle do negócio, e sem abrir mão da gestão. Uma venda de 33% poderia movimentar R$ 1,8 bilhão, pelos cálculos de Queirós. “Posso me desfazer de uma fatia e depois fazer uma nova oferta, de outros 10%. A questão é entender o momento certo para uma oferta”.

Sobre o interesse da estrangeira Alliance Boots na rede, Queirós reforça que não há muito espaço para conversas porque quer se manter como acionista majoritário, e as redes estrangeiras querem o controle das operações no Brasil.

(Por Valor Econômico) varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo, retail lab, ESPM