Nos shoppings de São Paulo, as bruxas não tiveram espaço neste ano. O Halloween, comemorado em 31 de outubro, foi atropelado por renas e trenós do Papai Noel, dando impressão de que o Natal não pôde esperar até dezembro. “Eu amo o Natal, mas estava comentando com o meu filho que toda essa decoração em outubro é muito estranha”, diz Luana Dozza Reis, culinarista de 40 anos. “Faltam quase dois meses ainda. Neste ano, a antecedência da decoração chamou mais a atenção”, concorda seu filho João Luca Dozza Reis de Freitas, de 10 anos.

Eles moram próximos do Shopping Higienópolis, na região central da capital paulista, que começou a montar a decoração em “meados” de outubro, segundo a assessoria de imprensa. Embora a inauguração oficial da decoração – que terá roda-gigante de 15 metros, minicarrossel e gira-gira em formato de xícaras – seja na primeira semana de novembro, o centro de compras já exibe itens como balões pendendo do teto e na fachada, além de luzinhas.

O Shopping Interlagos não esperou nem novembro e vai inaugurar neste domingo, 26, seu conceito de Natal, que envolve uma “típica vila” do Papai Noel, “com casinhas ricamente enfeitadas e ladeadas por árvores de diversos tamanhos ornamentadas por bolas e laços”, conforme o material de divulgação.

“Eu fico chocada com o poder do comércio. Acho tudo lindo, mas as decorações, também nas lojas, são um estímulo para as crianças. Instigam o consumismo nelas desde pequenas”, ressalta a microempresária Ana Rita Mello, de 42 anos, acompanhada da filha Giulia, de 8. “Cada vez mais antecipam o Natal. E me ofende porque nem acabei as tarefas do ano e já ficam pendurando enfeites, estimulando a comprar bebidas no supermercado. Nós somos bombardeados por todos os lados. Quando vejo a decoração cedo me dá um terror”, explica. Estamos perdendo as tradições. Comemoramos pelo consumismo e não mais pela tradição”, lamenta Ana Rita.

Novas gerações

Bruno Donato, sócio-proprietário da Innova Natal – responsável pela cenografia de quatro shoppings na capital paulista – diz que o objetivo dos ornamentos é justamente o contrário: a manutenção das tradições. “Tendência para mim é conseguir inovar sem ferir o tradicionalismo. É atrair as novas gerações, mas também rejuvenescer as ideias, atraindo um público que, para o Natal, está morrendo. As novas gerações não se interessam tanto por essa data. Se não recuperar o sentimento natalino, ele vai morrer”, explica.

“Tem shopping hoje em dia que faz Natal com Galinha Pintadinha (personagem de desenho animado). Se não tem apelo com o personagem principal, que é o Papai Noel, qual é a identidade que essa criança terá com o Natal? Você vai acabar com o Natal como potência do varejo e vai matar a galinha dos ovos de ouro”, argumenta Donato. A decoração de Natal para um shopping custa de R$ 400 mil a R$ 2 milhões, diz ele.

Web

Para atrair as novas gerações, uma das estratégias espalhadas pelos centros de compras neste ano será a interação com as redes sociais. No Pátio Paulista, na zona sul, o trono do Papai Noel foi criado maior do que o habitual para que até cinco pessoas possam sentar-se – e aparecer em uma selfie.

A ideia de conectividade também estará presente no Shopping Ibirapuera, na zona sul, que vai dar uma foto impressa a todos que postarem essa imagem no Instagram com uma hashtag predeterminada pelo shopping. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

(Por Varejista) varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo, retail lab, ESPM