Há duas semanas, a Brasil Pharma, braço de varejo farmacêutico do BTG, foi a mercado para dar a cara a tapa.

A terceira maior rede de farmácias do País, com cerca de 1,2 mil lojas, não conseguiu chegar a um acordo com seus credores e teve de pagar antecipadamente uma dívida de cerca de R$ 560 milhões em debêntures (títulos de dívida), emitidas entre 2012 e 2013, por ter descumprido as metas de endividamento (“covenants”) por dois trimestres consecutivos.

A dívida foi paga na semana passada. A maior parte com aumento de capital do BTG, o maior acionista da companhia, no valor de R$ 400 milhões.

A varejista levantou no mercado mais R$ 250 milhões, com um grupo de bancos, a taxas mais atrativas que as oferecidas pelos debenturistas, segundo fonte próximas à operação.

Na prática, a empresa conseguiu sanar seu problema no curto prazo. Mas o buraco, segundo analistas ouvidos pela reportagem, é bem mais embaixo.

Com faturamento líquido de R$ 3,5 bilhões em 2013, a companhia encerrou o ano com prejuízo de R$ 151,3 milhões. No primeiro trimestre, voltou a fechar no vermelho (R$ 185,3 milhões), com receita líquida de R$ 929,3 milhões. A dívida líquida encerrou o primeiro trimestre em R$ 818,6 milhões.

Os deslizes operacionais se refletem na Bolsa. No ano, as ações acumulam queda de 45%. Os papéis, que eram cotados a R$ 15,60 em fevereiro do ano passado, fecharam na sexta-feira a R$ 3,80.

Com isso, o valor de mercado da empresa, que já atingiu R$ 3,9 bilhões no seu auge, está em R$ 1,3 bilhão. “As ações devem cair mais. Nosso preço-alvo para o papel é de R$ 1,80”, disse Guilherme Assis, analista da Brasil Plural.

Trajetória

Criada em 2009 para ser uma das maiores redes do País, a Brasil Pharma foi uma das principais consolidadoras desse setor, entre 2010 e 2012, com a compra de oito redes varejistas em diversos mercados regionais, como Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

A companhia atua hoje com as bandeiras Big Ben, Farmácia Sant’ana, Drogaria Rosário, Mais Econômica e Farmais.

Assim como as grandes consolidadoras, não foge à regra, e enfrenta problemas de integração. No caso da Brasil Pharma, as aquisições envolveram redes regionais, com diferentes culturas e modelos de gestão – parte dos acionistas das redes adquiridas foi mantida à frente dos negócios, gerando atrito com o controlador.

Analistas afirmam que há uma grande discrepância de produtos e estratégia entre Big Ben (responsável por 40% da receita do grupo) e as outras bandeiras, já que a primeira opera de forma independente, sem capturar sinergias.

Outro grande tropeço ocorreu entre o fim de 2012 e o ano passado, quando o grupo formou um alto volume de estoque de medicamentos com prazo de validade curto, por conta de falhas em sistema de compras, afirmou uma fonte. O grupo negocia a devolução de produtos e tem dado descontos ao consumidor.

Prova de fogo

O choque de gestão daqui para frente passa por reduzir o ritmo de expansão e administrar melhor os estoques para recompor as margens nos próximos meses. É o ano do vai ou racha.

“Estamos promovendo o ‘turnaround’ na companhia. Vamos resolver o problema de estoques e buscar um mix mais expressivo em medicamentos genéricos (com margens maiores)”, disse à reportagem Carlos Fonseca, presidente do conselho da Brasil Pharma e sócio do BTG.

A empresa está em processo de reestruturação, que incluiu dança de cadeiras e pesadas demissões, segundo fontes. Nos últimos meses, 1 mil pessoas foram demitidas (o que deve gerar economia de R$ 35 milhões) e outras 1,5 mil devem ser cortadas de um total de 17 mil.

“Temos de botar a máquina para funcionar”, disse José Ricardo Mendes da Silva, presidente da companhia. Silva foi contratado como principal executivo financeiro no fim do ano passado e alçado à presidência em março deste ano.

Com uma carreira bem-sucedida na farmacêutica Aché, foi responsável pelo momento de bonança do laboratório. “Silva funcionou bem no Aché, mas varejo farmacêutico é um negócio totalmente diferente”, disse uma fonte de mercado.

Arrumar a casa não é só questão de tempo. A expectativa é que até o fim do ano a empresa esteja “ajeitada” para ser vendida.

“Hoje, ninguém compra porque sabe que a empresa tem problemas. Daqui a dois anos, quando a casa estiver arrumada, o preço dos ativos estará altamente valorizado. O ponto ótimo seria o início de 2015”, disse outra fonte próxima à companhia.

A tarefa será árdua. “A gente enxerga que a empresa ainda terá margens brutas comprimidas não apenas este ano. Não esperamos recuperação no curto prazo. O desafio será redução de custos e geração de caixa”, observou Pedro Zabeu, do Banco Fator.

“Vejo pouco poder de manobra para os próximos meses. Não fosse o BTG por trás da companhia, a Brasil Pharma seria hoje uma empresa insolvente”, disse Guilherme Assis, da Brasil Plural. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

(Por Exame) varejo, núcleo de estudos do varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo, retail lab, ESPM