Aproximadamente um quarto da população brasileira é inadimplente. A estimativa é da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), que calculou que cerca de 52 milhões de pessoas possuem pelo menos uma dívida não quitada nos últimos cinco anos. A conta inclui débitos bancários, assim como contas de luz, água e outros serviços.

“É assustador para quem vê a primeira vez, mas não é uma mudança radical. Sempre houve um grande número de inadimplentes no Brasil”, avaliou a economista responsável pelo estudo, Luiza Rodrigues.

O dado já leva em conta uma alta da inadimplência de 5,54% em fevereiro deste ano frente o mesmo mês de 2013. O crescimento representa uma aceleração na comparação anual, já que em fevereiro do ano passado o avanço da inadimplência foi de 5,34% frente o mesmo mês de 2012.

Para chegar a este percentual, a CNDL utiliza os registros de novos nomes no cadastro do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). Frente a janeiro, o indicador avançou 0,8%, o menor resultado da série histórica, iniciada em 2012.

Para o presidente da CNDL, Roque Pellizzaro Jr., o avanço da inadimplência se deve “ao aumento da taxa de juros e da inflação. Os dois somados resultaram nas dificuldades das pessoas honrarem suas dívidas”. Esses fatores se juntaram ao início das aulas em fevereiro, que representa custos extras para as famílias.

Já as vendas a prazo, medidas pelo número de consultas ao cadastro do SPC, cresceram 0,69% na comparação com fevereiro de 2013 e tiveram o pior resultado da série histórica da CNDL. A desaceleração foi forte, já que no segundo mês de 2013 ante o mesmo de 2012 o crescimento foi de 11,23%.

Na comparação mensal, as vendas a prazo caíram 0,27%. “O desarranjo orçamentário em fevereiro foi muito mais forte do que no ano passado”, disse Pellizzaro Jr., comparando o crescimento maior da inadimplência do que o de vendas a prazo. “No curto prazo, isso é ruim para as empresas”, completou.

A CNDL reviu a metodologia da pesquisa e divulgou novos dados.

Um deles é o número de dívidas em atraso que, em fevereiro, cresceu 0,8% frente a janeiro, o menor índice para o mês desde 2011.

Já em comparação com fevereiro de 2013, o avanço do volume de dívidas atrasadas foi de 3,02%. “O crescimento é um movimento típico desta época do ano”, avaliou, em nota, a CNDL.

“O número de dívidas cresce menos do que o número de pessoas inadimplentes porque uma pessoa pode pagar apenas uma de suas dívidas, o que diminui o número de dívidas, mas não o de inadimplentes”, disse Luiza.

A entidade também abriu as informações pelo período de inadimplência. As dívidas vencidas há menos de 90 dias foram as que mais cresceram, com uma alta de 8,37% ante o mesmo mês de 2013. Por outro lado, houve uma diminuição de 0,33% nas dívidas vencidas há 91 dias e até 180 dias. “Em torno de 50% das pessoas pagam suas contas em até 40 dias após o registro”, avaliou Pellizzaro.

Os economistas da CNDL também dividiram o número de dívidas registradas no SPC pelo número de inadimplentes e chegaram ao número médio de dívidas por pessoa. São, em média, 2,044 pagamentos em atraso por inadimplente no cadastro da confederação de lojistas. Esse número é o menor da série histórica da CNDL.

“Não digo que esse nível é baixíssimo, mas está sob controle, porque com duas dívidas, a pessoa consegue pagá-las”, avaliou o presidente da CNDL. “A pessoa não pagou agora, mas ela tem a capacidade, restringindo as compras, de quitar. Se fosse o dobro disso, não seria possível”, acrescentou o dirigente lojista.

Quase todos os dados utilizam apenas o cadastro do SPC. Apenas a estimativa do número total de inadimplentes de 52 milhões levou em conta outros dois cadastros. Para chegar ao número, os economistas do SPC realizaram ponderações cruzadas com dados do Datasus para expurgar possíveis casos de fraude. Além disso, foram excluídas todas as dívidas de pessoas com mais de 90 anos pela mesma razão.

 

[Fonte: Valor]

 

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