>A briga para atender a demanda de transferência de 30 milhões de pessoas para a classe média e o aumento do poder econômico do brasileiro tornou-se ainda mais ferrenha, principalmente entre as redes varejistas que têm por hábito atender ao público de renda mais baixa, como a Marabraz e a Casas Bahia, por exemplo.

Agora, empresas que atuam no segmento de venda de móveis começam a desenhar uma disputa geográfica na estratégia de abertura de lojas, de olho em cercar os clientes C e D e fidelizá-los, principalmente em bairros periféricos e bolsões de consumo do público emergente da Grande São Paulo, mas tem mais: as varejistas já buscam outros pontos-de-venda em outros estados, e redes que hoje não atuam fora da Grande São Paulo fazem planos para diversas regiões do País.

A Marabraz, por exemplo, acaba de inaugurar uma megaloja na região de Santo Amaro, zona sul da capital paulista e reduto de consumo do público C e D. A rede que, atualmente, possui 120 lojas no Estado de São Paulo, já tem planos de expansão, que incluem a abertura de 35 lojas em 2011 e mais 30 em 2012. “Vamos inaugurar lojas em bairros como Cidade Dutra, Diadema e Parque São Lucas, bem como em cidades como Campinas, Limeira e Jacareí, pois nosso objetivo é atender as classes B, C e D”, explica o diretor Nasser Fares.

A nova loja, localizada em um dos mais tradicionais pontos de comércio popular da capital paulista, integra o plano de expansão da rede que, este ano, já abriu pontos na Baixada Santista e dentro do Shopping Interlar.

Para o coordenador do núcleo de varejo da Escola Superior de propaganda e Marketing (ESPM), Ricardo Pastore, pontos-de-venda em regiões onde a população possui menor poder aquisitivo devem apresentar crescimento. “São Paulo é o maior mercado do País e muitas regiões ainda podem e devem ser exploradas, assim como cidades como Ribeirão Preto e Sorocaba”, afirma.

Segundo o especialista, as classes C e D estavam ausentes do mercado por falta de poder econômico; com a mudança em seu perfil, os varejistas se viram obrigados a buscar alternativas para atender a esta demanda. “É preciso mapear o perfil geográfico de algumas regiões de São Paulo para identificar potenciais pontos-de-venda porque podemos ter uma grande surpresa. Às vezes você não tem uma população residente, mas existe um público que trafega por ali. Exemplo disso é a Avenida Rebouças, que tem um corredor que conecta a população de Taboão da Serra. O lojista precisa considerar esses aspectos”, recomenda.

Para ele, o crescimento econômico obriga o varejista a se revitalizar, pois ele não pode ficar dependente de um shopping: “É necessário ampliar as oportunidades de mercado e buscar potenciais pontos-de-venda nas ruas de grandes centros”, diz.

Regiões

Com foco na demanda das classes C e D, o Magazine Luiza, por exemplo, ampliou seus negócios no nordeste, ao aumentar seus pontos-de-venda em nove estados da região, o que resulta no aumento de 30% do número de pontos-de-venda. A rede, que em julho assinou contrato de compra e venda das Lojas Maia, acredita que crescerá este ano e trabalha com uma expectativa de faturamento de R$ 6 bilhões.

A entrada da rede – empresa que tem uma trajetória de 52 anos – no mercado do nordeste coincidiu com sua consolidação no mercado na região da Grande São Paulo. Desde 2008, a empresa alcançou 1,6 milhão de novos clientes no principal polo econômico do País.

A Casas Bahia é outra rede que apostou em outras regiões: hoje ela atua em 10 estados, entre eles o da Bahia, que conta com filiais em cidades como Candeias, Feira de Santana e Lauro de Freitas.Mas não é só: a rede pretende estar presente em todos os estados em até três anos.

“Outras regiões do País, como o nordeste, contam com um grande potencial para os varejistas e devem despontar como focos de grande interesse para varejistas que pretendem ampliar seus negócios nos próximos anos”, avalia Ricardo Pastore.

Esta tendência se confirma no que se refere à Marabraz. De acordo com o diretor Nasser Fares, a rede pretende crescer dentro do Estado de São Paulo nos próximos três anos, mas, a partir de 2014, os pontos-de-venda devem incluir outros estados do País, como a região do nordeste. “Acreditamos que o mercado de móveis deve melhorar e apostamos muito na região da Grande São Paulo, mas, claro, seguindo nossos planos, existe, sim, uma perspectiva grande de seguir para outras regiões”, explica o diretor.

Vendas

Para agilizar e facilitar as vendas da rede, a Marabraz também traz, em breve, outra novidade. Conhecida por trabalhar com carnês como sistema de pagamento, a rede espera iniciar 2011 colocando um cartão à disposição para seus clientes. A varejista está firmando parceria com a Caixa Econômica Federal e vai oferecer mais uma opção de crediário.

“Não acredito que a venda cresça com o cartão, de imediato, pois o setor de móveis ainda não está aquecido, mas o aumento do poder econômico e o maior número de pessoas com casa própria vai se refletir lá na frente.” Trazer mais opções de pagamento sempre é visto com entusiasmo, avalia o diretor da rede. Claro que os juros dos cartões de crédito no País ainda são um ponto negativo. De acordo com pesquisa do Instituto Datafolha, 56% da população consideram este o maior problema dos cartões, mas o parcelamento e a segurança fazem uma parte da população dispensar o uso de dinheiro.

Fonte: DCI – 22/11/2010