>Novas lojas chegam a Curitiba e aplicam modelo das mídias sociais, em que o “poder” se concentra nas mãos dos usuários

Foi-se o tempo em que o varejo se resumia a um vendedor e um cliente frente a frente, e um balcão entre eles. Até um simples site com uma lista de produtos parece ter ficado no passado. A concorrência cada vez mais acirrada tem obrigado o empresário brasileiro a inovar e apostar em formais originais para conquistar a atenção do consumidor. Pelo menos três delas estão chegando a Curi­tiba, considerada uma praça-teste para novidades: vem aí uma loja colaborativa e um clube de amostras grátis; e já está no ar um site de promoções que só valem se os usuários “espalharem” os descontos.

O portal PeixeUrbano (www.peixeurbano.com.br) foi a primeira novidade a estrear na capital paranaense. No dia 28 de maio o site colocou no ar a primeira oferta para a cidade – um desconto de 71% em uma sessão de massagem de duas horas. Para que ela valesse, no entanto, era preciso que pelos menos 20 pessoas comprassem a oferta. Objetivo mais que alcançado: no total, foram vendidos 280 pacotes.

Margem de lucro – Competição alavanca novas ideias
As inovações do varejo, na opinião do professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), Claudio Felisoni de Angelo, que também coordena o Programa de Administração de Varejo da Fundação Instituto de Administração (Provar – FIA), aparecem conforme aumenta a necessidade das marcas de se destacarem e de proteger suas margens de lucro em um ambiente cada vez mais competitivo.

“O mercado de consumo está cada vez mais abarrotado de produtos e serviços, que por sua vez estão cada vez mais parecidos. Por isso, é fundamental buscar modelos criativos, se posicionar de maneira diferenciada”, diz. “Inovação é indispensável. Afinal, como diferenciar um alfinete, um pote de café solúvel, uma televisão que está à venda em dezenas de lugares?”

Café e cafeteira
Para Angelo, essas novidades serão naturais em um ambiente de grande competição e garantem espaços – na mídia e na cabeça do consumidor.

Entre os exemplos bem sucedidos, o professor cita uma rede de cafeterias alemã que criou um espaço para venda de produtos com descontos de até 40% e que mudam a toda semana. “Com isso, as pessoas vão várias vezes, para ver as novidades”, diz. Além disso, a rede aproveita um momento em que os clientes estão com tempo disponível para compras. “Eles estão, de certa forma, pré-dispostos a receber estes estímulos. O resultado é que a rede é extremamente lucrativa.” (CS)
O “start-up” brasileiro já funciona desde março no Rio de Janeiro e abril em São Paulo, e foi inspirado em sites norte-americanos como Groupon, Li­­vingSocial e Twongo, que viraram febre no país no ano passado. A mecânica é simples: o usuário cadastrado recebe por e-mail a promoção, entra no site e compra o cupom de desconto, que deve ser apresentado no estabelecimento. Isso, claro, des­­de que ele faça a sua parte divulgando a promoção para ajudar a garantir que pelo me­­nos 20 pessoas também comprem a oferta. Para isso, vale o tradicional boca a boca e, principalmente, as redes sociais.

“Os próprios usuários fazem o marketing pelas ofertas, porque eles têm interesse que outras pessoas comprem”, diz um dos criadores do Pei­xeUrbano, o curitibano Emer­son Andrade. “O que queremos é que as pessoas explorem a cidade, que conheçam coisas novas.”

Quadrados
Na próxima sexta-feira será a vez da loja colaborativa Endossa estrear no mercado curitibano. Com os 150 cubos de madeira das paredes ainda vazios, por enquanto é difícil imaginar o que o consumidor vai encontrar por lá. Só há uma garantia: variedade. A proposta é que os espaços sejam ocupados por comerciantes ou artesãos que não têm condições de ter uma estrutura própria para vender seus produtos. “Não fazemos nenhum tipo de seleção dos itens. Vale qualquer coisa”, conta uma das sócias, a empresaria Raisa Terra.

Os espaços têm tamanhos variados, com aluguel que varia entre R$ 140 e R$ 660. A Endossa é responsável por toda a estrutura, pela equipe de vendedores e também por emitir a nota fiscal. Mas para se manter no espaço é preciso conquistar o público. Cada caixa tem uma meta de vendas e cada compra vale um “endosso”. Quem não atingir o endosso precisa desocupar o espaço e voltar para a fila de espera. “Por enquanto, a meta é igual ao valor do aluguel, e precisa ser batida uma vez a cada três períodos de contrato”, explica o empresário Gustavo Ferriolli, um dos idealizadores e também sócio da loja de Curitiba.

A proposta é aproximar os conceitos de mídias sociais e internet 2.0 – em que o usuário faz o conteúdo – para uma loja física. “O mix vai se renovando de acordo com as ideias de quem vende e as escolhas de quem compra”, diz Ferriolli. A Endossa já tem outras duas lojas em São Paulo, que têm fila de espera de interessados em alugar um espaço. Em Curitiba, pouco mais da metade dos espaços ainda está vaga, mas os empresários dizem que a procura tem sido muito boa. “Curitiba para nós será um desafio, porque fazer sucesso aqui é mais difícil do que em qualquer outro lugar”, diz o empresário. “Mas é estratégica porque é muito parecida com outras cidades do mundo em que apostamos que a ideia vai dar certo.”

Este é grátis
O clube Amostra Grátis funciona em São Paulo há cerca de um mês e deve chegar a Curitiba em breve, mas a data ainda não foi confirmada. A loja segue o conceito “tryvertising”, algo como “teste antes de comprar”, que já funciona em países como China (SamplePlazza), Estados Unidos (SampleU), Japão (SampleLab!) e Espanha (Esloúltimo).

Para participar, é preciso fazer um cadastro e pagar a taxa de inscrição no valor de R$ 50. Ela dá direito a uma carteirinha para acesso livre a cinco produtos por mês (inclusive lançamentos do mercado). Depois, o “pagamento” é feito com opinião – ele precisa responder a um questionário falando sobre os problemas e as qualidades do que está levando para casa.

Segundo os criadores do clube, em apenas duas semanas em São Paulo foram feitos 10 mil cadastros. O empresário Luiz Gaeta, um dos idealizadores do Amostra Grátis, diz que marcas como Nestlé, Motorola, Nextel e Bertin, que fazem parte do portfólio da capital paulista, também já demonstraram interesse em marcar presença na unidade de Curitiba. Na loja paulistana há desde cosméticos até produtos para casa, calçados e comidas.

Fonte: Gazeta do Povo