Após quatro anos estudando o mercado brasileiro, a rede de vestuário sueca H&M finalmente deu os primeiros passos para trazer sua operação ao país.

A varejista está montando um time de executivos, todos vindos da concorrência. Na lista de contratados está um dos homens-chave da Riachuelo, Flávio Amadeu, atual diretor de operações da Guararapes.

Segundo apurou o Brasil Econômico, a Lojas Renner e a C&A também vão perder colaboradores estratégicos para a rede sueca.

O contrato assinado pelos executivos prevê multa de R$ 3 milhões caso sejam divulgados os planos de abertura das primeiras lojas no país, o que deve acontecer no início de 2013.

Mas até lá, a segunda maior varejista de vestuário do mundo, atrás apenas da Zara, ainda terá de vencer muita burocracia. A começar pela demora na obtenção da habilitação para utilizar o Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex).

O registro é necessário para que a varejista possa importar para o Brasil os produtos fabricados por 700 fábricas espalhadas por Europa e Ásia.

O tempo médio para expedição do documento é de longos seis meses para sair. Para driblar o problema, a H&M poderia usar uma trading, mas pagaria mais impostos, além de ter o inconveniente de receber suas roupas com etiquetas em nome da importadora.

A opção por importar roupas é a mesma de sua maior concorrente. Em 1999, quando chegou ao Brasil, a Zara trazia todos seus produtos do exterior. Só algum tempo depois é que conseguiu iniciar a produção local, que não é suficiente para atender a demanda das lojas no país.

A operação da H&M terá um presidente próprio, que responderá diretamente para a matriz na Suécia. O privilégio não é dado a todos as filias. O México, cujas primeiras lojas serão abertas no final deste ano, ficará sob o guarda-chuva dos EUA.

Executivos ligados às negociações afirmam que a intenção da H&M é abrir pelo menos 30 lojas de uma só vez, com foco nas grandes capitais. Na década de 1980, quando chegou ao Brasil, a holandesa C&A usou a mesma estratégia, inaugurando 15 pontos de venda simultaneamente.

A logística para abastecer as lojas tem sido outro ponto de dificuldade para a H&M. Por isso, um dos caminhos avaliados pela empresa é a comprar a participação em alguma concorrente brasileira, lê-se Riachuelo ou Lojas Renner. E condições para isto não faltam.

“Considerando o tamanho das empresas brasileiras, elas seriam facilmente adquiridas pela H&M”, diz um executivo que acompanha a estratégia de lançamento no país.

A alternativa mais fácil, no momento, é Riachuelo já que a Renner é totalmente pulverizada e os contratos de acionista tem uma cláusula que impede a compra hostil das ações. A Lojas Renner disse por meio de sua assessoria que não tem conhecimento de uma negociação entre a H&M e seus acionistas.

A H&M está avaliada em R$ 87,5 bilhões na bolsa de Estocolmo. Na BM&F Bovespa, a Renner vale R$ 7,2 bilhões e Riachuelo e suas indústrias somam R$ 5,4 bilhões. A assessoria da gigante sueca informou que não comenta especulações.

A Riachuelo nega qualquer negociação para se unir a H&M e a saída de Flávio Amadeu. “A chegada da H&M serve para ampliar o bom ambiente competitivo e inibir a sonegação de impostos, prática comum neste segmento”, diz Flávio Rocha, presidente da Riachuelo.

Ilustres desconhecidos também querem espaço

Provavelmente, boa parte dos consumidores brasileiros nunca ouviu falar de redes de vestuário como a alemã Peek & Cloppenburg (P&C), a inglesa Debenhams ou a espanhola El Corte Inglés. Pois estas ilustres desconhecidas, que estão entre os líderes de seus mercados de origem, planejam aportar em território nacional em breve.

Fugindo da crise na Europa, a centenária P&C, que tem lojas espalhadas no Leste Europeu, está buscando pontos de venda e com muita dificuldade.

Segundo dados da Associação Brasileira de Shoppings (Abrasce), a taxa de vacância média do país é de 2,7%. E a P&C tem um cenário diferente da H&M, bastante conhecida pela classe média.

“Assim como a Zara, a H&M está entre as tops do varejo. Os shopping centers disputam para ter este tipo de loja no mix. Elas atraem um grande fluxo de pessoas”, diz um executivo próximo à empresa.

Neste ano, o presidente da rede de departamentos espanhola El Corté Ingles esteve no Brasil analisando pontos de vendas em grandes capitais.

A empresa, que enfrenta dificuldades com a queda nas vendas na Espanha, tem planos de estrear por aqui no prazo de um ano.

A estratégia é trazer de volta ao Brasil o conceito de departamento, que desapareceu junto com Mesbla e Mappin.

A inglesa Debenhams, que trabalha com produtos mais baratos de olho na classe média baixa, ensaia desde o começo do ano passado trazer sua franquia de lojas ao país. Por enquanto, sem sucesso.

(Por Brasil Econômico) varejo, núcleo de estudos do varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo