Há 40 dias da mudança no controle do GPA (Grupo Pão de Açúcar), Abilio Diniz e o seu sócio francês Casino podem buscar um entendimento após a transição de poder na companhia, em 22 de junho. Pessoas próximas a Abilio e Jean-Charles Naouri, presidente do Casino, contam que é possível a abertura de um melhor canal de negociação entre as partes após o Casino exercer os seus direitos, garantidos no acordo de acionistas de novembro de 2006. “É preciso virar essa página, deixar que eles (os franceses) consolidem o controle para que se consiga avançar em algo”, diz uma fonte próxima às companhias.

Abilio e Naouri se encontraram, pelo menos, uma vez este ano, em Paris, apurou o Valor, e advogados das partes tentaram desenhar um novo acordo em conversas que começaram há cerca de oito meses. Mas não houve avanços até o momento. As negociações envolveram algumas propostas dos franceses, como a saída de Abilio do GPA, com a venda com ágio de suas ações ao Casino (Abilio tem 21,5% do grupo), e até a divisão da maior rede varejista do Brasil em dois negócios autônomos (alimentos e eletroeletrônicos), em que cada um ficaria com uma parte. “Chegamos muito perto, mas bateu na trave. Abilio não aceita ver o que ele construiu dividido no meio e também não quer dinheiro”, diz um interlocutor.

Há questões relacionadas ao previsto hoje no acordo de acionistas da Wilkes Participações, controladora do GPA, que podem voltar à mesa após junho. O acordo trata das regras que envolvem a sociedade entre Abilio e Casino. Atualmente, conforme apurou o jornal Valor, o sócio francês concorda que poderia ser invertida a regra de definição do nome do futuro presidente do GPA, um ponto presente no contrato dos sócios. Pelo acertado, a partir de junho, depois que o Casino assumir o controle, os franceses podem pedir a destituição do atual presidente do grupo Enéas Pestana, e o Casino elaboraria uma lista com três nomes substitutos. A escolha é feita por Abilio. Entrou em discussão a possibilidade de Abilio fazer a lista e o Casino, a escolha. É uma ideia dos franceses, mas não se bateu o martelo a respeito.

Também já se considera a hipótese de Abilio ficar à frente de decisões estratégicas, com autonomia em determinadas matérias (como aquisições locais) que poderiam ser submetidas ao conselho de administração da Wilkes. Após 22 de junho, a Wilkes será presidida pelo Casino, como determina o acordo, e a função deve ser ocupada por Naouri, apurou o Valor.

Ainda há outro ponto que pode ser modificado: a formação do novo conselho de administração do GPA. Nas semanas seguintes a 22 de junho, Naouri deve chamar uma assembleia de acionistas para que exerça o direito de eleger novos membros do conselho do GPA. Pelo acertado, o Casino tem o direito de ter a maioria no conselho do grupo, somando dois conselheiros aos atuais cinco membros. A família Diniz, que também tem cinco conselheiros hoje, perde duas cadeiras para o Casino. Quatro são indicados em comum acordo, somando 14. Mas esse total pode chegar a 18 membros, o que abre margem de manobra para alterações nessa nova divisão do conselho. Há informações de que interessa a Abilio manter o controle do conselho do GPA. A questão não avançou até agora.

Há três pontos principais no acordo de Wilkes que irão nortear os próximos passos dos sócios, caso as partes não definam uma nova proposta até 22 de junho: o Casino indicará no próximo mês o nome do presidente do conselho de administração da controladora Wilkes (que tem o poder de avaliar certas matérias antes do conselho do GPA); Abilio não sairá da presidência do conselho do GPA e permanece na função por tempo indeterminado. Ele só sai se tiver problemas de saúde ou se o grupo passar a registrar resultados financeiros ruins (o que não ocorre hoje). Por último, nos 60 dias seguintes a 22 de junho, Abilio deve vender pequena parcela de suas ações ordinárias na Wilkes ao Casino. Isso está no acordo condicional de venda de ações.

Uma questão que permanece no mercado trata do interesse do Casino em negociar com Abilio. “Quem olha de fora, pode ver um Abilio em situação difícil e um Casino pronto para tirá-lo do grupo. Eles ainda não se entenderam, mas a coisa não é bem assim”, diz uma fonte ligada aos sócios.

Para ambos os lados, o entendimento interessa. O Casino negocia com Abilio porque não quer enfrentar o desgaste de um rompimento e suas implicações jurídicas (há o risco de Abilio defender direitos na Justiça). E perder Abilio (e seu peso político e estratégico) pode ter um custo alto, admitem os franceses. Abilio tem a empresa nas mãos e os efeitos nos negócios de uma eventual saída dele do GPA preocupam o Casino.

Abilio, por sua vez, quer negociar porque sabe que criou uma empresa muito maior do que aquela que existia na época do acordo de 2006. Casas Bahia e Ponto Frio se somaram ao grupo. Por isso, crê que as bases do contrato anterior precisam ser revistas. E entende que seu lugar ainda é no grupo. “Não interessa a ele sair para ser acionista de um Carrefour lá fora. A paixão dele está aqui”, diz uma fonte próxima a ele. “É uma fase de transição para Casino e para Abilio e isso vai acontecer aos poucos. Não é fácil para os dois lados.”

(Por Supermercado Moderno) varejo, núcleo de estudos do varejo, núcleo de estudos  e negócios do varejo