Cem gramas de ovos de Páscoa custam 314% a mais do que o mesmo peso na barra de chocolate de marca igual – caso do Crunch, produzido pela Nestlé. A diferença fica maior se comparar o produto sazonal, um ovo recheado de bombons Garoto, com uma caixa desses itens: 100 g do primeiro têm valor 351% maior do que o segundo nas mesmas proporções. E mais, um Diamante Negro custa 226% acima do que se pede pela barra do chocolate, mantendo o comparativo.

A equipe do Diário percorreu supermercados ontem para apurar valores de 21 ovos de chocolate e compará-los com os preços praticados nos equivalentes não sazonalizados. Todos apresentaram diferença superior a 100% nos valores. Os de marcas mais tradicionais – como Nestlé, Garoto e Kraft detentora da Lacta – desempenharam os maiores percentuais de variação nos produtos pesquisados. Consumidores deflagraram campanha nas redes socais recentemente questionando os critérios adotados pela indústria do setor ao estabelecerem os valores dos ovos de Páscoa.

Justificativas

Contratação de mão de obra, custo maior de embalagem, esquema de produção complexo e logística diferenciada são algumas das justificativas apontadas pelos fabricantes de chocolates ouvidos pela equipe do Diário para o preço até 314% maior dos ovos em relação aos tabletes. A Nestlé e a Garoto dizem que “a estrutura envolvida para produção e distribuição é muito maior neste período”.

A Kraft Foods, dona da Lacta, pontua que tabletes e ovos de Páscoa são produtos diferentes, embora a matéria-prima seja a mesma. “A produção de um ovo de chocolate é mais artesanal e cada um deles é embalado manualmente. Foram contratados 1.200 temporários, que trabalham desde agosto para fazer 27 milhões de ovos.” A empresa também eleva o número de caminhões para distribuir os produtos.

O Grupo Ferrero, das marcas Kinder e Ferrero Rocher, por sua vez, explica que como produz mais bombons, acaba tendo gasto maior com a produção e distribuição dos ovos, pois a escala é menor e exige mais cuidado na logística.

O coordenador do curso de Economia da Universidade Municipal de São Caetano, Francisco Funcia, explica que, além dos custos repassados aos clientes serem naturais devido ao investimento das companhias, fator mercadológico ajuda a sustentar os valores pascais nas alturas.

“É o momento de o mercado ter ganhos maiores, por se tratar de data comemorativa. Mas não é preciso elevar tanto os preços”, diz. Ele analisa que este comportamento é típico de uma lógica capitalista do comércio. “Por isso, tem descontos tão grandes após o Natal e Páscoa, porque preços foram majorados antes.”

Chocolate sofre reajuste neste início de ano

O IPS (Índice de Preços nos Supermercado) medido pela Apas (Associação Paulista de Supermercados) mostra que o preço do chocolate já apresentou alta de 0,63% em janeiro. O diretor de economia da entidade, Martinho Paiva Moreira, afirma que isso tende a refletir no comportamento dos preços desses produtos ao longo dos próximos meses. A chegada da Páscoa pressiona os preços.

Neste ano, os ovos estão em média 9% mais caros nos supermercados do que no ano passado, devido aos custos maiores do açúcar, energia elétrica e mão de obra, que são repassados para os produtos. As fabricantes falam em 5% de reajuste, em média. Em 2010 foram produzidas 582 mil toneladas de chocolates.

(Por Varejista) varejo, núcleo de estudos do varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo