No Brasil, existem em torno de 180 empresas que já aceitam o bitcoin como meio de pagamento. No entanto, a maioria delas ainda não realizou qualquer operação com a moeda virtual. Mesmo empresas que já fecharam vendas com bitcoin apresentam volumes irrisórios de operações.

A Tecnisa, por exemplo, aceita o bitcoin como meio de pagamento desde 2014. Mas só nos últimos 90 dias começou a fechar negócios com a criptomoeda. Até agora, a empresa vendeu quatro imóveis, com parte do pagamento em bitcoin. A Tecnisa limitou o recebimento de bitcoin a R$ 100 mil por operação. “É uma proteção para a empresa, caso a procura cresça muito rapidamente”, afirmou Romeo Busarello, diretor de marketing da Tecnisa.

Busarello disse que há, no momento, 12 ou 13 pessoas negociando pagar parte dos imóveis com bitcoin. A Tecnisa não faz a operação diretamente. A incorporadora contrata uma corretora especializada em criptomoedas, que converte o bitcoin em reais e transfere o valor em reais para a companhia. Segundo Busarello, a quantia movimentada em bitcoin é irrisória para a Tecnisa. Mas, em cinco anos, pode representar de 5% a 10% das vendas da incorporadora.

No varejo, a loja virtual de moda alternativa Piratas, de Cabo Frio (RJ), começou a aceitar a criptomoeda em 2015. Rafael Swoboda de Castro, sócio da Piratas, disse que realiza “algumas vendas por mês” com bitcoin. “É um meio alternativo de pagamentos. No nosso negócio representa só uma pequena porcentagem das vendas”, disse Castro, sem citar números.

A Piratas recebe o bitcoin dos consumidores. “Quando a empresa quer trocar a moeda por reais, procura uma casa de câmbio. Mas temos preferido manter uma pequena reserva em bitcoin porque acreditamos na rápida valorização dessa moeda”, afirmou Castro.

O Grupo Reserva começou a aceitar o bitcoin nas lojas virtuais da Reserva e da Reserva Mini em janeiro. Rony Meisler, presidente do grupo Reserva, disse que consumidores têm feito de 100 a 150 transações com a moeda digital por dia nos sites. Esse volume equivale a cerca de 5% do volume de transações on-line diárias das duas marcas. Em valor, a fatia do bitcoin é inferior a 5%, segundo Meisler. “Neste momento, o interesse não é gerar um grande valor de vendas em bitcoin. O objetivo principal é que as operações funcionem bem e com segurança para o consumidor”, afirmou Meisler.

A Reserva não opera diretamente com o bitcoin. As transações são administradas pelo sistema de pagamento da Mundipagg, que faz a operação com a moeda virtual e converte os valores em reais para a loja. Meisler disse que não é intenção da varejista ter bitcoin no caixa, devido à sua alta volatilidade. “No nosso caixa só entram reais”, disse o executivo. O Grupo Reserva fechou 2017 com receita de R$ 340 milhões e prevê para 2018 crescer 17,7%, para R$ 400 milhões.

Já a PreVet Home, clínica veterinária de São Paulo, aceita o bitcoin desde 2013, mas ainda não fechou nenhum negócio. “Muita gente liga perguntando, mas não teve nenhum negócio de fato”, disse Renato Nagliati, sócio da PreVet Home. “Mas, como ferramenta de marketing, tem sido útil, porque muita gente fica conhecendo nosso trabalho por causa do bitcoin”, acrescentou Nagliati.

Na Clube Turismo Porto Alegre acontece o mesmo, segundo Max Ales, dono da agência. “O fato de aceitarmos o bitcoin acaba dando maior exposição para a empresa”, disse o executivo. A Clube Turismo aceita bitcoin desde janeiro de 2017, mas ainda não fechou nenhum negócio. Os relatos são similares na Luz Calçados, de Mogi Guaçu (SP), e no JS Hostel, de São Paulo. “O bitcoin tem funcionado como ferramenta de marketing, por enquanto. Mas, neste ano, cresceu a procura de pessoas interessadas. Acredito que, em breve, começaremos a fechar reservas com a criptomoeda”, afirmou Daniel Rodrigues, sócio do JS Hostel.

“No Brasil, como no exterior, o bitcoin é adotado principalmente como alternativa de investimento para pessoas físicas. Mesmo empresas que aceitam a criptomoeda o fazem mais pelo marketing, para serem consideradas inovadoras”, disse Gustavo Chamati, sócio-fundador do Mercado Bitcoin, maior corretora de bitcoin do país, com 900 mil clientes cadastrados. “Falta uma legislação mais clara para possibilitar o uso do bitcoin como um meio de pagamento usual no Brasil”, acrescentou o executivo.

João Canhada, fundador da Foxbit, corretora de criptomoedas com 400 mil clientes no país, também disse que há mais procura pelo bitcoin como alternativa de investimento. “A maioria dos investidores são pessoas físicas que buscam diversificar o portfólio de investimentos, mas não há interesse em vender a moeda para pagar contas”, afirmou Canhada. No caso das empresas, disse Canhada, receber em bitcoin tornou-se uma ferramenta de marketing para chamar a atenção para as marcas. “Para a maioria, não compensa fazer negócios com o bitcoin, por causa do custo”, disse.

A Foxbit cobra uma taxa de 1,89% para converter bicoin em reais para varejistas. A Mercado Bitcoin cobra uma taxa média de 2,5%. Além dessa taxa, os clientes pagam uma taxa para validar a transação com o bitcoin, que hoje varia entre US$ 1 e US$ 2. Mas, em dezembro de 2017, esse valor chegou a US$ 30 por operação. “Para comprar um imóvel ou um carro, esse valor compensa. Para comprar uma camiseta, esse custo fica muito alto”, disse Canhada.

Varejo tradicional
“Hoje, as criptomoedas têm pouca aplicação no varejo tradicional. A expectativa é que isso mude, à medida que grandes redes passem a adotar o bitcoin no país”, disse o sócio da Zpay, Vinicius Pessin. A Zpay é uma empresa de serviço de pagamento para lojas virtuais. Ela conecta as lojas às corretoras de criptomoedas, faz a conversão do bitcoin para reais e repassa o valor para os varejistas. A empresa tem 70 clientes – pequenas empresas de comércio eletrônico. A expectativa da Zpay é movimentar R$ 20 milhões neste ano em transações com bitcoin.

De acordo com dados do site especializado bitValor, em 2017 foram registradas transações com bitcoin no país no total de R$ 8,3 bilhões (US$ 2,5 bilhões). Esse montante é 1.366,2% superior ao total registrado em 2016. Mas, praticamente toda essa movimentação foi feita por pessoas físicas interessadas em adquirir a criptomoeda como uma alternativa de investimento.

Atualmente, existem no País 1,4 milhão de investidores com a criptomoeda. Para se ter uma base de comparação, há no Brasil 619 mil pessoas físicas cadastradas na B3 (Bolsa de Valores) e 558 mil investidores de títulos do Tesouro Nacional. As três maiores casas de câmbio de bitcoin do país – Mercado Bitcoin, FoxBit e BitcoinToYou – intermediaram 95% das transações com bitcoin no país em 2017.

(Por Supermercado Moderno) varejo, núcleo de varejo, retail lab, ESPM, Bitcoin