Lu não é como as outras garotas no Tinder. Para começar, ela é um avatar. Mesmo assim, 12 horas depois de ter entrado no aplicativo, no Dia dos Namorados, a morena bonita, embora um tanto rígida, já contava com mais de 150 mil “matches”. Seus admiradores, tanto homens como mulheres, não estavam em busca de uma companhia, mas sim de descontos na compra de geladeiras e aparelhos de TV. Observadores do mundo desenvolvido podem se sentir tentados a desconsiderar Lu, a criação da varejista brasileira Magazine Luiza, como mais um truque publicitário da era digital. Mas estariam deixando de compreender o verdadeiro objetivo.

No Brasil, Lu se tornou uma espécie de pioneira, uma ponte improvável entre uma base de consumidores desconfiados e varejistas on-line que têm tido dificuldades para ganhar força na maior economia da América Latina.

— Lu foi criada para encorajar as pessoas que não se sentem muito à vontade com a tecnologia. Quando foi apresentada, não havia nada parecido com ela — disse Pedro Guasti, CEO da Ebit, empresa de pesquisa sobre o comércio eletrônico no Brasil. — Neste sentido, ela é muito especial.

A vendedora digital ajudou a Magazine Luiza a registrar um aumento de 56% nas vendas pela internet no primeiro semestre de 2017 em relação ao ano anterior, um ritmo muito superior ao avanço de 12% do comércio eletrônico como um todo no Brasil, de acordo com a empresa e com a Ebit. Este é um dos motivos que levaram os investidores a transformar a Magazine Luiza na ação do varejo de melhor desempenho do mundo, com uma alta de mais de 2000% desde o início de 2016.

— A Magazine Luiza será a Amazon do Brasil — disse Luiz Alves Paes de Barros, o magnata brasileiro dono da Alaska Investimentos, que fez da varejista uma de suas maiores participações antes que a alta decolasse.

Para grande parte do mundo, o comércio eletrônico já entrou no grupo de fornos micro-ondas e smartphones: é onipresente e é difícil de viver sem ele. No entanto, em mercados emergentes como o Brasil, as compras pela internet ainda não conseguiram de fato obter aceitação e representam apenas 4,5% das vendas do varejo, em comparação com 14% nos EUA. Os consumidores não confiam plenamente em empresas grandes nem em sistemas de pagamento anônimos. E com razão: corrupção, roubos e golpes — tanto na internet quanto na rua — são muito comuns.

Lidar com Lu revelou-se como um salto menor para muitos brasileiros, alguns dos quais nem sequer têm cartões de crédito. Basta se conectar e Lu está pronta para conversar sobre quais aparelhos oferecem o melhor valor ou sobre como compartilhar vídeos entre smartphones e TVs. Ela apareceu em noticiários e respondeu a perguntas no Facebook. Seu canal no YouTube tem 500 mil seguidores, e os usuários do Tinder que aceitaram seu perfil em junho ganharam um cupom da Magazine Luiza.

Contrariando a tendência da inteligência artificial, a Magazine Luiza mantém uma pessoa por trás do avatar, em vez de usar um chatbot.

— Estamos no Brasil, precisamos desse calor humano — disse Frederico Trajano, 41 anos, CEO do Maganize Luiza. Sua mãe, Luiza Helena Trajano, é a Lu original.

(Por O Globo) varejo, núcleo de varejo, retail lab, ESPM