O grupo japonês Kirin, que fabrica no Brasil as cervejas Schin e Devassa, está decidido a sair do País e mantém neste momento negociações avançadas com a Heineken. A expectativa é que o acordo de venda total da Brasil Kirin seja anunciado já em fevereiro, segundo fontes familiarizadas com as negociações.

A Heineken, segundo essas fontes, deve pagar menos do que os US$ 2 bilhões oferecidos em 2011, quando tentou comprar a Schincariol. Esta acabou sendo comprada pela Kirin, em duas etapas, por US$ 3,96 bilhões. Em agosto de 2011, a Kirin adquiriu 50,45% da Schincariol, por US$ 2,56 bilhões (R$ 3,95 bilhões), dando origem à Brasil Kirin. Em novembro do mesmo ano, comprou os 49,55% restantes, nas mãos da família Schincariol, por US$ 1,4 bilhão (R$ 2,33 bilhões).

A Schincariol, com sede em Itú (SP), era a segunda maior cervejaria do País há seis anos, com 10% de participação, atrás da Ambev, e foi avaliada, na época, em R$ 8 bilhões. Esse valor representava 18 vezes o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) da companhia, um valor alto considerando que outras cervejarias vendidas em países emergentes na mesma época foram negociadas entre 8 e 10 vezes seu Ebitda.

O grupo Kirin criou a Brasil Kirin com a perspectiva de obter um retorno de R$ 2,5 bilhões até 2015, mas não foi o que aconteceu e a companhia só acumulou prejuízos. Quando assumiu a presidência da Kirin em 2015, Yoshinori Isozaki, teria imposto como condição fazer a baixa contábil dos prejuízos da Brasil Kirin.
No fim de 2015, a Kirin anunciou uma baixa contábil de R$ 3,88 bilhões, zerando as perdas com a operação. Desde então, a matriz busca uma saída para o negócio no Brasil. No ano passado, até setembro, o prejuízo da Brasil Kirin somava R$ 4,23 bilhões.

“O acordo com a Heineken está quase fechado. A questão ainda em discussão é se a Heineken vai abandonar a distribuição que hoje é feita pela Coca-Cola e vai usar a rede de distribuição da Brasil Kirin ou não”, disse uma fonte que acompanha a negociação. A Brasil Kirin mantém contratos com 180 distribuidores exclusivos e, para abrir mãos desses acordos, a Heineken teria um custo adicional, das rescisões.

A Heineken já possui acordos de distribuição com a Kirin no Japão e na Holanda.
Uma outra fonte diz que o plano de compra pela Heineken vai culminar, ao fim do processo, no corte de 40% do pessoal contratado. A companhia possui aproximadamente 11 mil funcionários.

A Brasil Kirin opera no País com 12 fábricas, 20 centros de distribuição próprios e 190 revendas e atende cerca de 600 mil pontos de vendas no País. Na categoria de cerveja, a companhia possui em torno de 9% de participação de mercado, atrás da Ambev, com 67%, do Grupo Petrópolis, com 12%, segundo o Credit Suisse. Comprando a Brasil Kirin, Heineken aumentaria sua fatia de 11% para 20% do mercado. A aquisição também permitiria à companhia holandesa mais do que dobrar sua capacidade de produção no País, passando de 20 milhões de hectolitros para 50 milhões de hectolitros, segundo o J.P. Morgan.

Procurada, a Kirin enviou comunicado informando que, no plano de negócios para 2016 a 2018, o grupo “pretende reforçar a posição competitiva da Brasil Kirin, concentrando-se em suas áreas fortes e alcançando um crescimento mais sustentável”.

“Enquanto continuamos nos concentrando principalmente na aceleração do crescimento orgânico, a Kirin também está considerando outras alternativas, incluindo uma parceria estratégica como opção para o crescimento sustentável da Brasil Kirin, e nada está determinado neste momento”, informou a Brasil Kirin.

A Heineken informou que “não comenta especulações de mercado”.

(Por Supermercado Moderno) varejo, núcleo de varejo, retail lab, ESPM