Quem vê o bom humor com que o italiano Oscar Farinetti, 60 anos, fala sobre a rede Eataly, que fundou há 12 anos, percebe imediatamente, que as coisas vão bem para o negócio.

Com 32 lojas em cinco países, Farinetti é um poço de inspiração para quem se sente ameaçado pela crise.

Nessa terça-feira (23/08), Farinetti abriu a Latam Retail Show 2016, em São Paulo, e contou como chegou a fórmula final do complexo gastronômico, que chegou ao Itaim Bibi, em São Paulo, no ano passado.

Assim como todas as outras unidades do mundo, a loja de São Paulo reúne sete mil produtos divididos em 22 departamentos, em três andares. Ali, produtos artesanais italianos, como massas e molhos, são vendidos juntamente com itens de pequenos produtores brasileiros.

Além de restaurantes e sorveteria, o complexo conta com padaria, rotisseria, uma fábrica de muçarela, hortifruti, açougue, peixaria, carnes curadas, laticínios e todas as categorias essenciais de uma mercearia, como doces, geleias, conservas, azeites, molhos, temperos, condimentos, massas frescas, arroz, e bebidas.

Antes de estar a frente da Eataly, Farinetti administrava uma pequena loja de eletrônicos, que fundou em 1978, a UniEuro. Em 26 anos, ele a transformou em uma das maiores varejistas especializadas da Itália com 150 lojas.

Com um império construído, Farinelli decidiu que era hora de investir em seu maior sonho: garantir que os pequenos produtores da Itália tivessem uma maneira de fazer com que seus produtos chegassem ao consumidor, além de conquistar o merecido reconhecimento.

Na primeira oportunidade, vendeu sua cadeia de lojas de eletroeletrônicos para um grupo inglês por 400 milhões de euros.

Em seguida, passou três anos estudando e pesquisando sobre como funcionam as grandes redes de supermercados, além de viajar para conhecer o Grand Bazar, em Istambul – considerado o maior e mais antigo mercado do mundo. “Reuni todas essas experiências e lancei o Eataly”.

O local escolhido foi uma antiga indústria abandonada, no centro de Turim, na Itália. Apaixonado por tudo o que era produzido nas pequenas plantações e fábricas familiares de massa de sua região, a ideia do italiano era montar uma espécie de supermercado, com barracas, onde os clientes comprariam direto das mãos de quem produzia.

O espaço era enorme: 11 mil metros quadrados que permitiram ao empresário sonhar alto. Do encontro entre fornecedores e compradores, ele acreditava que poderiam sair experiências ainda mais enriquecedores.

Desenvolveu então, outra zona onde instalou restaurantes tematizados. Carnes, peixes, legumes, pizzas, massas, queijos e sorvetes preparados na frente do cliente, segundo as melhores técnicas culinárias locais.

Ainda não satisfeito, Farinetti ambicionava que, ao comprar produtos tão diferenciados, seu público soubesse como prepará-los. Instalou também um centro de treinamento com uma cozinha experimental com uma grade permanente de cursos.

Assim, a fábrica, que era enorme, ficou pequena para tantas ideias. Até o subsolo foi utilizado para a construção de uma superadega.

Um ano após a abertura da primeira unidade, choveram pedidos de diferentes partes do mundo interessados em replicar o modelo. Em pouco tempo, o Eataly chegava a países, como Japão e Estados Unidos.

CONCEITO PÊSSEGO

Farinetti conta que começou o Eataly com base no conceito de um pêssego. “O caroço representa o coração, onde estão seus sonhos e objetivos”, diz.

A polpa são as experiências que o seu negócio gera nas pessoas (clientes, funcionários e fornecedores) e a casca são as ações de marketing que atraem quem irá fazer parte do seu negócio.

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As metas de Farinetti estavam baseadas no que chama de bem-estar da sociedade. Seu propósito era gerar emprego, difundir a biodiversidade da Itália e oferecer comida de qualidade.

Para Farinetti, o sucesso empresarial deve colocar em primeiro lugar as pessoas, e só depois os projetos, produtos, e lucro.

Considerado dono de uma ideia muito original, ele discorda. “Não há nada de inédito, é apenas a coletânea de modelos que funcionam”, diz. “Não me importo que copiem o Eataly, porque eu também copio o tempo todo”.

O sucesso do Eataly, de acordo com o empresário, se deve, principalmente, ao fato de a rede não ser uma cadeia, e sim uma empresa que se considera “uma família”.

“Respeito nomes como McDonald’s ou Starbucks, mas não gosto da ideia de ter os mesmos preços e mesmo padrão de loja. Cada loja é uma família com personalidades diferentes”, diz.

(Por Diário do Comércio) varejo, retail lab, núcleo de varejo, ESPM