O ano de 2015 registrou o mais baixo volume de inaugurações de shopping centers no país desde 2010. Foram 18 aberturas, versus 16 há cinco anos. Também em área locável, o setor atingiu o menor crescimento do período. No início de 2015, a expectativa da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) era que o número de novos empreendimentos empatasse com os 24 de 2014.

Para 2016, há 40 centros de compras na lista de inaugurações do setor – incluindo os adiamentos de 2015 -, mas o mercado estima que haverá atrasos também. Os dados são do último relatório da Abrasce, publicado em dezembro.

Segundo os dados da entidade, o número de lojas em operação nos 538 shoppings existentes no país superou, pela primeira vez, a marca de 100 mil em 2015 – precisos 100,7 mil pontos. Mas foram abertas menos lojas em relação a 2014 – reflexo da desaceleração na inauguração de centros comerciais. Ao todo, 5,4 mil novos pontos passaram a funcionar, o que representa uma retração de 40% sobre as 8,9 mil lojas inauguradas em 2014.

O levantamento mostra avanço de 8,5% no faturamento do setor em 2015, sobre os R$ 142,3 bilhões registrados no ano anterior – uma variação menor do que a da inflação do ano, estimada em 10,7% por instituições financeiras ouvidas pelo Banco Central.

Em área bruta para locação, somaram-se à base total do setor pouco mais de 790 mil m2 em 2015, o menor patamar desde 2010. Pouco mais de 40% dos espaços novos foram expansões de shoppings que já estavam em operação. O percentual é superior ao do ano anterior, em cerca de 30%.

Isso resume de forma precisa a maneira como setor se comportou em 2015. Investimentos foram reduzidos, as empresas protegeram caixa evitando desembolsos maiores – com postergação de planos de novas aberturas e foco na ampliação das áreas existentes. É a estratégia mais barata e rentável em períodos de recessão econômica, pois se investe basicamente em shoppings já estabelecidos e com público consolidado. No ambiente atual, o prazo de retorno sobre o capital investido tende a ser menor do que o verificado caso o investimento ocorresse em projetos a partir do zero (“greenfields”).

Isaac Peres, presidente da Multiplan, disse em entrevista em dezembro que a empresa está analisando abrir shoppings fora do Brasil e a decisão deve sair em 2016. Sobre o seu novo empreendimento no Rio, o ParkShopping Jacarepaguá, disse que a companhia decidiu não lançar o projeto em 2015 por causa do cenário macroeconômico. De janeiro a setembro, o grupo investiu R$ 230 milhões, sendo R$ 41 milhões em novos shoppings.

A concorrente BRMalls investiu R$ 348 milhões até setembro, sendo R$ 251 milhões em expansão e revitalização de empreendimentos e R$ 46 milhões em “greenfields”. “Não há pressa em abrir novos shoppings. Esse cenário atual acabou nos levando a revisar cronogramas [de inaugurações] em 2015”, disse Carlos Medeiros, presidente da BRMalls, para analistas há cerca de um mês. Segundo ele, a recuperação da economia deve ocorrer apenas em 2017.

Para o próximo ano, a Abrasce contabiliza em seus dados empreendimentos não inaugurados em 2015, assim como outros anunciados para 2016. A conta chega a 40 centros comerciais, mas especialistas são unânimes em dizer que esse volume não deve ser atingido. A Abrasce tem mencionado um número um pouco mais realista, próximo a 35 aberturas no ano que vem.

“Consideramos o modelo de shopping e o posicionamento das companhias [de shoppings] forte, mas ainda somos menos positivos sobre o setor por causa da expectativa de uma recessão mais longa do que o esperado […] e ‘benchmarks’ mais duros para retornos e custo de capital”, escreveram em relatório Bruno Mendonça e Renan Manda, analistas do Santander.

(Por Valor Econômico) varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo, retail lab, ESPM