Começam a ficar mais claras as posições estratégicas das grandes varejistas para tentar voltar a dar resultados, após um dos piores trimestres em vendas na história do setor. Ontem, questionado por analistas, o comando do Magazine Luiza admitiu que não seguirá a concorrência, fará a defesa da margem bruta se necessário, sem queimas “exageradas” de estoques, de forma a manter controle da rentabilidade. Dias atrás, a Via Varejo, dona de Casas Bahia e Ponto Frio, sinalizou posicionamento oposto.

Frederico Trajano, diretor da rede e filho da presidente da cadeia Luiza Helena Trajano, considera “irracionais” certas práticas de preço em lojas on-line hoje, sem mencionar especificamente nome de redes rivais – como Walmart.com, CasasBahia.com ou Americanas.com. “Há preços abaixo dos custos das mercadorias, é algo absolutamente irracional. Não faz sentido do ponto de vista econômico”, afirmou Trajano.

“A gente não queima nada exageradamente porque precisamos controlar rentabilidade. Ser competitivo também passa por ter atendimento, loja preparada, mix correto, nível de serviço melhor”, afirmou Marcelo Silva, diretor superintendente da empresa. A maioria das operações de varejo eletroeletrônico não divulga resultados, portanto, é difícil saber quem estaria “comprando mercado” com perdas em rentabilidade.

Dias atrás, a Via Varejo deixou mais claro que vai aumentar o nível de agressividade comercial. Falou que o atual patamar de margem bruta “não deve continuar naquele que se viu no terceiro trimestre”, quando atingiu 32,8%, taxa estável sobre 2014.

A reação à declaração foi imediata. O mercado avaliou a posição como reforço na batalha por volume, reduzindo preços, com efeitos sobre rentabilidade. Ainda não parecia claro, até ontem, como o Magazine Luiza se posicionaria daqui para frente. A ação do Magazine fechou em queda de 5% ontem e da Via Varejo caiu 5,7%.

Dados publicados na noite de segunda-feira mostram queda de quase 13% na receita líquida do Magazine Luiza de julho a setembro sobre 2014 – Via Varejo teve redução de 22,7%. No Magazine, lucro líquido de R$ 42 milhões em 2014 virou perda de R$ 19 milhões de julho a setembro. A Via Varejo reverteu lucro de R$ 216 milhões em perda de R$ 46 milhões.

Enquanto a margem bruta do Magazine subiu 1,1 ponto para 29,5%, na Via Varejo está estável em 32,8%. Mudança no mix de produtos mais vendidos e cobrança de frete e montagem aumentaram a margem do Magazine. Na linha de caixa e aplicações financeiras, a companhia somava de R$ 635,4 milhões, e uma relação entre dívida e lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação em 2,5 vezes (era 1,7 vezes em 2014). Na Via Varejo o índice ficou praticamente estável de 0,9 para 1,05.

O temor do mercado é que a receita do Magazine encolha mais e a concorrência acirrada prejudique ganhos de margem bruta, escreveu em relatório Guilherme Assis, analista da Brasil Plural. “A surpresa positiva foi a melhora na geração de fluxo de caixa livre no trimestre, apoiada por uma melhoria na gestão do ciclo de caixa”, diz. “Magazine Luiza acumulou melhores resultados relativos do que Via Varejo, com a contração de vendas ‘mesmas lojas’ inferior (queda de 21,2% versus redução de 24,6% para a Via Varejo)”, escreve.

Questionado por analistas sobre resultados dos esforços em reduções de custos e despesas, Trajano disse que a empresa “faz a sua parte, mas o governo tem que fazer a parte dele”. A queda nas vendas impediu que a empresa diluísse o aumento de despesas operacionais. Essa linha diminui 1%, mas como receita encolheu mais, o Ebitda reduziu 37%.

Ainda ontem, a empresa informou que fez parceria com a Losango, do Bradesco, na área de crédito. A varejista já tem sociedade com Itaú na operação da Luizacred. A partir de agora, vendas que o Itaú não queria financiar, especialmente Crédito Direto ao Consumidor, podem ser financiadas pela Losango. O acordo não envolveu pagamentos ao Magazine Luiza

(Por O Negócio do Varejo) varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo, retail lab, ESPM