A indefinição quanto aos ajustes fiscais e o impasse político que o País vive têm feito o otimismo do varejo despencar. Prova disso é que os empresários do setor estão postergando as compras para o Natal com medo de uma piora do cenário econômico.

“O pessimismo dos empresários é tamanho que eles não estão fazendo projeções para o Natal. Como forma de proteção, decidiram por esperar o Dia da Criança para depois verificar se vão repor estoques ou não para o final do ano”, afirmou o economista da Associação Comercial de São Paulo, Emilio Alfiere.

O especialista explicou que, como as perspectivas de venda para o Dia da Criança, no mês de outubro, é de queda de 5% em São Paulo e de 2,8% em nível nacional, existe ainda a possibilidade da retração do varejo ser maior do que as previstas anteriormente. “O ceticismo quanto ao rumo político tem provocado o aumento da insegurança do varejista. Enquanto a política não se estabilizar, não será possível prever nada para o próximo ano, nem para o Natal, sendo bem realista”, analisou Alfiere.

O economista afirmou ainda que, diferentemente de outras crises que o País viveu, na atual temos a reserva internacional de US$ 360 bilhões que pode “segurar” o País e evitar a moratória. “Crises acontecem há 50 anos no País. Só que em anos anteriores os recursos não eram os mesmo que os atuais”, disse o economista referindo-se à reserva que tem sido usada para conter o dólar, um eterno fantasma à economia brasileira.

Crise política

Na opinião do especialista em varejo Fred Rocha, por mais que os empresários tentem inovar e sobreviver nesse momento, enquanto não houver uma definição política, nada vai minimizar a crise econômica. “Nada ficou definido sobre o ajuste fiscal e agora vemos que os cortes de gastos públicos virou um novo embate. Não adianta só o varejista reduzir custos e se reinventar, o bom exemplo tem que vir do governo”, enfatizou o especialista ao DCI.

Rocha explicou que o pequeno empresário possui o ímpeto de progredir e crescer mesmo diante do cenário nebuloso pelo qual passa o País. “Viajando pelo Brasil percebo que boa parte dos empresários tem se movimentado, mas tem aqueles que estão mais pessimistas. Na semana passada, vi nas ruas de uma cidade do Paraná a proprietária de um salão de beleza, que participou da minha palestra e colocou em prática uma das minhas sugestões”, disse ele.

Para elevar as vendas, a empresária foi para as ruas perto do salão entregar cartões e bombons aos clientes em potencial. “Os empresários têm feito a parte deles, cabe ao governo fazer também”, revelou.

Balanço em São Paulo

No Estado de São Paulo, que puxa o varejo em termos de participação de mercado, o volume de vendas no comércio caiu 11,7% em julho sobre um ano antes, segundo o levantamento ACVarejo, da ACSP. No acumulado do ano o setor amarga um recuo no volume de vendas de 6,2%.

Em julho, na comparação com o mesmo mês de 2014, houve redução nas vendas em todos os nove setores analisados pela entidade, principalmente nas concessionárias de veículos (-18,3%), lojas de móveis e decorações (-15,4%), e lojas de departamento, eletrodomésticos e eletroeletrônicos (-13,4%), todos condicionados a credito e mais suscetíveis a menor demanda de consumo.

Mas segmentos de produtos básicos também apresentaram recuos, embora menores. Como é o caso de farmácias e perfumarias, queda de 5,8%, e supermercados com retração de 4,8%. Com exceção da região metropolitana do Alto Tietê, que registrou aumento de 5,3% no volume de vendas frente a julho de 2014, todas as outras 17 áreas pesquisadas tiveram retração.

Os piores resultados do balanço foram registrados nas seguintes regiões: litoral (-19,4%), metropolitana oeste (-17,4%), São José do Rio Preto e Alta Noroeste (-15,9%), Marília (-15,3%) , além da região do ABCD Paulista (-14,9%).

(Por O Negócio do Varejo) varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo, retail lab, ESPM