O varejo só verá recuperação a partir de 2017. Especialistas afirmam que a crise econômica, que tem impactado o consumo, está só no começo e se estenderá por mais dois anos no País. Para o segundo semestre, a estimativa é de uma nova queda nas vendas, após o primeiro semestre ruim.

Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou que no acumulado de 12 meses o setor caiu 0,5%, sendo o pior resultado desde 2004. “A gente esperava um desempenho fraco, mas a velocidade com que isso aconteceu surpreendeu”, disse o assessor econômico da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (FecomercioSP), Vitor França.

Para ele, a deterioração dos indicadores aponta que o comércio está bem distante de apresentar uma melhora. “Estamos bem longe do fim desta crise”, enfatizou. E completou: “O varejo começará a se recuperar em 2017, mas o crescimento será lento e creio que virá com base fraca de comparação”.

França afirmou também que a tendência de queda se manterá no segundo semestre. “Continuará a menor concessão de crédito, os juros estão em alta e consumidor está bem desconfiado sobre o futuro”, disse. A crescente onda de desemprego e os preços dos produtos também foram listados como vilões para o brasileiro. “Os consumidores mostram preocupação com uma possível perda de emprego e já sentem dificuldade em manter o hábito de compra adquirido em anos anteriores.” Essa dificuldade em “honrar” os compromissos mensais deve fomentar a inadimplência.

“A alta do preço dos itens de necessidade básica começa a pesar mais no bolso. Dados do Banco Central apontam um leve crescimento na utilização do cartão de crédito e do cheque especial. Se o consumidor chegou a esse ponto, significa que ele não está conseguindo nem pagar as contas”, disse o economista da FecomercioSP.

Projeções

Para o fechamento do ano, a Fecomercio estima que as vendas no varejo restrito – sem automóveis e material de construção – tenha queda de 2% a 3% e no varejo ampliado. Caso sejam somados os dois segmentos mencionados, a queda seja ainda maior. “A nossa perspectiva é de queda entre 4% e 5%”, concluiu França.

A projeção de desempenho negativo foi indicada também pelo professor de economia do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) de Minas Gerais, Felipe Leroy. “O resultado será negativo, seguindo a tendência do PIB”, disse.

O economista ainda afirmou que, além da crise econômica, a falta de confiança por parte do consumidor tem sido um fator bastante negativo em períodos como este. “A inflação preocupa, assim como também o desemprego. Ter uma crise de confiança torna a situação ainda mais difícil. A insegurança elevada afeta a intenção de consumo.”

Nem a data sazonal mais importante para o comércio varejista – o Natal – será capaz de minimizar a desaceleração do varejo ao longo deste ano. “Acredito que nem o efeito Natal, nem o efeito do décimo terceiro salário vai amenizar o resultado”, disse Leroy.

Para ele, o brasileiro vai preferir reverter o dinheiro extra para outras prioridades. “Quem tem dinheiro não está disposto a gastar devido a insegurança. Quem tiver dívidas vai preferir saldar. Então a liquidez que o décimo terceiro traria ao consumo será revertido para quitar dívidas”, concluiu o economista do Ibmec.

Ontem, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) ainda informou que diante da perspectiva de continuidade na tendência de encarecimento do crédito, de enfraquecimento do mercado de trabalho e de novas quedas na confiança do consumidor, a entidade manteve em -1,1% sua expectativa para o desempenho do volume de vendas do varejo restrito em 2015. Para o varejo ampliado, a CNC projeta queda de 6,5% ante a 2014, principalmente em decorrência da perda de força do setor automotivo (-24,6%).

Desempenho

Em maio, sete das dez atividades analisadas na pesquisa do IBGE registraram resultados negativos no volume de vendas na comparação com abril. Os resultados negativos foram: combustíveis e lubrificantes – 0,1%; itens de farmácia, médicos, perfumaria e cosméticos -0,4%; supermercados e afins -1,1%; livros, revistas e papelaria -2,1%; móveis e eletrodomésticos -2,1%; material de construção – 3,8% e queda de 4,6% em automóveis e motos.

“O resultado aponta que até setores mais resistentes como supermercados e farmácias começaram a sentir a crise. Os consumidores estão mudando os hábitos”, disse o economista da Fecomercio, Vitor França.

Já as atividades com resultados positivos foram as de equipamentos e material para escritório, informática e comunicação, com alta de 5,5%; além de tecidos, vestuário e calçados, com 2,7%; e outros artigos de uso pessoal e doméstico, com 1,7%.

(Por O Negócio do Varejo) varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo, retail lab, ESPM