A economia da China andou patinando e teve reflexo no Brasil. Um espirro na China pode provocar uma pneumonia por aqui, principalmente na indústria. Um exemplo disso é o setor têxtil, que importa muita matéria-prima da China. O preço desses produtos varia muito por causa da queda na bolsa de valores da China, que, nas últimas semanas, foi mais de 30%.

Ninguém aqui nunca trabalhou com mercado financeiro. Operador, só de máquinas. Compra e venda, só de fios e tecidos. Mas depois das bolsas de Xangai despencaram, eles entenderam um outro sentido para ‘desdobramentos’.
Em uma das maiores fábricas de tecidos do estado de São Paulo quase 100% da matéria-prima é chinesa. Só o algodão é comprado no Brasil. Quem trabalha com isso diz que essa é uma realidade do setor têxtil brasileiro, totalmente dependente da China.

O gerente não tira os olhos da variação do câmbio. Ele contou que os fios que eles importam da China ficaram até 50% mais caros porque são negociados em dólar. “Muita mercadoria nossa chega no porto e fica escolhendo o melhor momento, o melhor câmbio possível para poder entrar com essa mercadoria”, afirma Claudio Freitas.

Funciona assim: se a economia fica mais fraca, a China compra menos soja e minério de ferro do Brasil. Como 20% de todas as nossas exportações vão para lá, o resultado é que vai entrando menos dólar no Brasil. Quanto menos dólar circulando, mais caro ele fica. E o Real desvalorizado afeta diretamente o importador.

Para o economista Silvio Campos Neto, o lado bom é que, se o produto chinês ficar caro, pode abrir espaço para a nossa indústria competir. “Esse é um cenário provável, mas a recuperação será lenta. Sabemos que há limitações, há problemas muito importantes que limitam uma retomada forte da indústria, problemas especialmente no âmbito local. Porém, algumas condições de recuperação estarão dadas”, ressalta.

A maioria das empresas brasileiras que produziam matéria-prima para a indústria têxtil faliu justamente por causa da concorrência com as asiáticas. O setor acredita que levaria no mínimo seis meses para retomar a produção.

(Por G1) varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo, retail lab, ESPM