Sem reação do mercado de trabalho e com inflação de alimentos bastante elevada em maio, economistas avaliam que o varejo teve nova queda das vendas em relação a abril e afirmam que não há perspectiva de reação no curto prazo.

De acordo com a média das estimativas de 18 consultorias e instituições financeiras, a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) deve mostrar queda de 0,1% do volume de vendas do varejo restrito (que não inclui veículos e material de construção) entre abril e maio, feitos os ajustes sazonais.

Se confirmada, será a quarta retração consecutiva das vendas na comparação mensal. As projeções para a pesquisa, que será divulgada hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), vão de retração de 0,6% até alta de 0,4%. Para o varejo ampliado, que inclui os segmentos de veículos e material de construção, 16 analistas projetam queda de 0,6% entre abril e maio, a sexta consecutiva, se confirmada.

Para Paulo Neves, economista da LCA Consultores, por enquanto não há números que sustentem perspectiva de retomada das vendas, já que todos os indicadores de tendência para o varejo mostraram comportamento ruim no período recente.

Para maio, o economista projeta queda de 0,6% do varejo restrito e recuo de 0,2% das vendas do comércio ampliado, que considera automóveis e material de construção. “Não tem nenhuma boa notícia para o varejo por enquanto. A inflação continuou a aumentar, o crédito está mais caro e o mercado de trabalho voltou a surpreender para baixo”, observa o economista.

Os preços dos alimentos, por exemplo, subiram 1,37% em maio, de acordo com o IPCA, o que tende a atrapalhar as vendas dos supermercados, diz. Neves, porém, não acredita que há um ou outro segmento que está puxando o desempenho do comércio para baixo. “É uma piora bem espalhada”, observa.

Para o Itaú, que estima retração de 0,2% do comércio entre abril e maio, o desempenho mais fraco das vendas deve ficar concentrado em supermercados, móveis e eletrodomésticos.

Para Neves, da LCA, tanto a renda quando o crédito estão desacelerando, o que justifica projeções pouco animadoras para o varejo. Em maio, o rendimento médio real caiu 5% em relação ao mesmo período do ano anterior, enquanto 115 mil vagas de emprego formais foram fechadas no mês.

Outro indício de que a disposição para consumo deve seguir baixa nos próximos meses é a confiança das famílias. Depois de leve reação em abril, o indicador voltou a cair em maio, com retração de 0,6% na passagem mensal, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV). Em junho, a sondagem mostrou queda ainda maior, de 1,4%, observa Neves. “Esses números contaminam o cenário para o mês e para o ano”, afirma Neves, da LCA, que projeta queda de 0,5% das vendas no varejo em 2015, pior variação desde 2003.

Mesmo quem projeta alta das vendas em maio não vê reversão da tendência recente de queda do comércio. Para a Rosenberg Associados, as vendas devem ter aumentado 0,4% no mês, mas não há recuperação consistente à vista, afirma a economista-chefe da consultoria, Thaís Zara. Em relação ao ano passado, lembra, a queda deve ser de 2,7%.

(Por Valor Econômico) varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo, retail lab, ESPM