Antes mesmo de o inverno começar, as lojas iniciaram este ano as liquidações de itens de vestuário e com descontos de até 70%. Além de o teto do abatimento ser maior em relação ao de anos anteriores e o evento ter sido mais do que antecipado, o clima de liquidação não ficou restrito às roupas. As ofertas de produtos com preços reduzidos se alastraram por quase todos os segmentos do varejo, de eletrodomésticos a imóveis, incluindo carros, material de construção, móveis e até serviços, como pacotes turísticos.

Apesar de o varejo continuar estocado, especialmente no segmento de bens duráveis, a necessidade de fazer liquidações hoje está muito mais ligada à falta de demanda. Pressionados pela queda nas vendas e pelo juro alto que encareceu o custo do dinheiro para as despesas do dia a dia, os lojistas estão fazendo liquidações e promoções uma atrás da outra, o que esvaziou o significado do evento para os consumidores. Há shoppings que até apelaram para promoções por segmento para escapar do lugar comum das liquidações, algo nunca visto antes.

“O inverno começou no domingo, dia 21 junho, e desde a sexta-feira anterior já havia loja de itens de vestuário em liquidação nos shoppings”, lembra o diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira de Lojistas de Shoppings (Alshop), Luís Augusto Ildefonso da Silva. Segundo ele, o desconto médio é maior este ano: gira em torno de 60%. Em 2014, oscilava entre 30% e 40%.

A C&A, a maior varejista de vestuário, por exemplo, iniciou a liquidação de inverno no dia 16 de junho, com descontos de até 60%. Na concorrente Lojas Marisa, o evento começou no dia 1.º deste mês e o corte anunciado nos preços é de até 70%.

No setor de vestuário, pesquisa da Confederação Nacional do Comércio (CNC) mostra que a fatia de empresas com estoques excessivos, que estava em 25,5% em maio, caiu para 23,9% em junho. Apesar da melhora, as liquidações continuaram fortes. “Os lojistas de itens de vestuário encomendaram um volume menor de produtos. Mas como as vendas estão muito ruins, eles estão liquidando para fazer capital de giro”, explica Fabio Bentes, economista da CNC e responsável pela pesquisa de estoques.

Diante desse quadro, o diretor da Alshop acredita que a projeção dos lojistas de shoppings, feita no fim de 2014 que era ter crescimento real de 2% a 3% neste ano, está ameaçada. “Tivemos entre três e quatro meses de desempenho negativo ou ficamos no zero a zero em termos reais”, argumenta.

Eletrônicos

Dependentes do crédito, que ficou mais restrito e caro por causa da alta da taxa de juros para conter a inflação, a situação é mais crítica nas lojas de eletroeletrônicos. Pesquisa da CNC de estoques mostra que de maio para junho aumentou de 33% para 33,6% a parcela de lojistas que vendem bens duráveis com volume de estoques excessivos. Bentes observa que as maiores retrações no primeiro quadrimestre deste ano em relação ao de 2014 foram registradas nesse segmento, com quedas de 16% no varejo automotivo, de 8,9% em móveis e eletrodomésticos e de 4,5% nos materiais de construção.

A Casas Bahia, por exemplo, maior revenda de eletroeletrônicos do país, não cansa de anunciar promoções de preços, resultado de negociações fechadas com a indústria. Exatamente para reverter esse baixo astral na venda de itens mais caros, os shoppings começaram a fazer liquidações por segmentos de produtos. O Shopping West Plaza, por exemplo, fez em junho uma liquidação batizada de “Black Week” voltada para a venda de eletroeletrônicos com desconto de 30%. “Percebemos que esse ano está desafiador e decidimos fazer promoção de um segmento que não entra nas liquidações”, diz a superintendente Bettina Quinteiro.

Para Adriana Colloca, superintendente da Associação Brasileira de Shopping Centers, a iniciativa de segmentar as liquidações por produto é inédita.

(Por O Estado de São Paulo) varejo, núcleo de estudos e negócios do varejo, retail lab, ESPM