O Google Inc. está se preparando para oferecer serviços de telefonia celular diretamente a consumidores nos Estados Unidos, após fechar negócios com as operadoras locais Sprint Corp. e T-Mobile US Inc., segundo pessoas a par do assunto. A iniciativa provavelmente instigaria a indústria a reduzir preços e melhorar a velocidade dos serviços.

Não está claro qual a abrangência do serviço celular que o gigante de internet planeja oferecer, quanto vai custar ou quando começarão as vendas. O serviço deve começar pequeno, limitado a algumas cidades americanas ou a usuários do Google Fiber, o serviço de internet de banda larga da empresa.

A iniciativa é um dos sinais mais fortes até agora de que o Google está ampliando suas ambições para muito além do seu serviço de vídeos, o YouTube, ou de mensagens, o Gmail. Os executivos da empresa, que tem sede em Mountain View, Califórnia, também querem que o Google tenha um papel maior em como esses serviços são prestados ao consumidor.

A Sprint é a terceira maior operadora de telefonia celular dos EUA, enquanto a T-Mobile ocupa a quarta posição. Por meio de acordos separados com cada uma delas, o Google vai revender serviços pelas redes de ambas, de acordo com pessoas a par dos planos. Esse tipo de acordo entre empresas é comum, permitindo que vendedores como o Google ofereçam telefonia móvel com suas próprias marcas.

A entrada do Google no mercado de telefonia celular vai criar uma nova dor de cabeça para uma indústria que já enfrenta uma guerra de preços e custos crescentes. Executivos da Sprint estão apostando que o influxo de novos clientes que deve conseguir com o Google compensará os riscos de a gigante de buscas na internet ganhar força demais no mercado de telefonia celular.

Ainda assim, a Sprint está protegendo sua aposta ao incluir no contrato uma cláusula que garante que as condições podem ser renegociadas se a base de clientes do Google inchar e atingir determinado volume, diz uma pessoa a par do assunto.

 

Os executivos do Google abordaram a Sprint pela primeira vez há mais de 18 meses sobre o potencial de um negócio de revenda, conhecido como Acordo de Operação Virtual de Rede Móvel (MVNO, na sigla em inglês). Esses acordos são padrão e oferecem altas margens para as operadoras, que vendem o excesso de capacidade em suas redes e ganham consumidores sem ter de arcar com os custos de marketing ou processamento de novos contratos.

Mas a decisão de fechar um acordo MVNO com o Google foi bastante incomum. A fama do Google de potencialmente transformar os setores nos quais atua deixou alguns executivos da Sprint receosos de que estariam abrindo as portas para um rival, diz uma pessoa a par do assunto.

Os acordos com a Sprint e a T-Mobile vão dar ao Google uma forma de oferecer telefonia celular sem ter de realizar o árduo trabalho de construir e manter uma rede. Mas o Google ainda teria que lidar com tarefas penosas como serviço de atendimento ao consumidor e a cobrança, algo que ele tem evitado, de modo geral, ao oferecer serviços gratuitos sustentados por anúncios.

Outras empresas já atuam nos EUA como operadoras virtuais do mercado celular. A maioria delas são pequenas empresas, mas a Tracfone Wireless, da mexicanaAmérica Móvil, tem crescido e se tornou a quinta maior operadora móvel nos EUA, oferecendo serviços baratos por meio de redes de outras telefônicas.

O Google já tem forte presença no mercado móvel por meio do sistema operacional Android, usado em mais da metade de todos os smartphones vendidos nos EUA. O Google é dono também da marca de telefones Nexus, produzido por vários fabricantes. O apoio das operadoras ajuda o Google a vender esses produtos e ele terá de ser cuidadoso para não prejudicar esse relacionamento ao concorrer com elas no mercado de telefonia móvel.

Os planos do Google foram divulgados primeiramente pela “The Information”, publicação especializada na cobertura da indústria de tecnologia.

Executivos do Google vêm trabalhando no projeto celular há mais de um ano, segundo uma das fontes. Os preparativos são parte de um esforço mais amplo para expandir a cobertura de internet. À medida que mais pessoas têm acesso a uma internet melhor e mais barata, o Google se beneficia porque elas tendem a fazer mais pesquisas, baixar mais vídeos do YouTube e enviar mais e-mails pelo Gmail e mensagens pelos telefones com Android.

Separadamente, o Google tem feito lobby para tentar convencer a Comissão Federal de Comunicações dos EUA (FCC, na sigla em inglês) a liberar uma ampla faixa do espectro de telefonia móvel de baixa qualidade que poderia ser usado para fornecer acesso barato à internet. Essa faixa de frequências não é de muito uso para as operadoras porque os sinais não podem ser transportados por longas distâncias. Mas o espectro poderia ser útil em cidades e responder por boa parte do tráfego atual que é operado por grandes empresas como a Verizon Communications Inc. e a AT&T Inc.

“É provavelmente uma tentativa de colocar pressão sobre as operadoras para que melhorem seus próprios produtos ao mostrar novas formas de oferecer o serviço”, diz Jan Dawson, analista da Jackdaw Research. “Quando o Google entra num mercado já existente, ele tenta fazer as coisas [de um jeito] diferente, em vez de só oferecer algo ligeiramente melhor e mais barato.”

A iniciativa pode estar sendo elaborada em um momento crucial, já que o Google vem sendo pressionado em várias áreas de negócios, apesar da sua posição dominante na internet — uma permanência longa para os padrões do Vale do Silício. Na sua segunda década como empresa de capital aberto, o Google ainda respondeu por mais de 65% das buscas na internet nos EUA em dezembro, segundo a comScore.

Ainda assim, estima-se que o Google fechou 2014 com uma receita 11% maior que no ano anterior, o menor crescimento em cinco anos. Os gastos de capital saltaram 46% entre janeiro e setembro, para US$ 7,4 bilhões. O Google também enfrenta pressão de alguns países da Europa para que desconecte seu sistema de busca de outros serviços.

Alguns analistas também acreditam ainda que a abertura de capital do Alibaba pode ter pesado sobre as ações do Google, já que investidores as venderam para comprar papéis da gigante chinesa de comércio eletrônico. A ação do Google caiu cerca de 4% em 2014, enquanto o índice Nasdaq subiu mais de 14%.

Além disso, há ainda a percepção de que o principal negócio do Google, os anúncios, está desacelerando. Os cliques pagos são a ferramenta-chave para medir a frequência com que internautas clicam num anúncio. No terceiro trimestre de 2014, o avanço foi o menor em quatro anos.

(Por The Wall Street Journal) varejo, núcleo de estudo e negócios do varejo, retail lab, ESPM